Especialista avalia que empresas brasileiras poderão ter ganhos ao alterar processos para driblar os problemas causados pela doença
A estimativa de crescimento da economia mundial para 2020 vem sendo afetada, principalmente, pelos reflexos que o coronavírus está causando em escala global. Pelo que já vem ocorrendo, estima-se que, dificilmente, algum país passará ileso pelo surto, o qual afetará a economia brasileira de forma direta ou, desde já, indiretamente.
Com o cenário atual, o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (IBRE/FGV) estima uma perda entre 15% e 20%. O impacto que se reflete pela redução da atividade para o mercado brasileiro ainda é difícil de ser medido detalhadamente, mas como o país é exportador de produtos primários e de primeira necessidade, a queda pode ser minimizada nas exportações para China. “O agronegócio brasileiro é, atualmente, o que possui o maior potencial de exportação para o mercado chinês. A soja, a carne de frango e a bovina, o açúcar bruto, a celulose, o café e o farelo de soja lideram a lista dos itens com maior demanda, o que pode ser um estímulo à manutenção das vendas ao país mais afetado pela epidemia”, avalia Fabiano Souza, estrategista em gestão de empresas da Trajetória Consultoria.
Como todo surto passa por um período mais caótico, a China acredita que este momento já tenha passado, inclusive com o retorno das aulas nos próximos dias. Entende-se que em países menos populosos, com maior velocidade na implementação de medidas de controle como na Europa, os estragos podem ser menores. “A economia chinesa está afetada em toda sua extensão, mas as atividades que necessitam de mão de obra intensiva e incapaz de reagir com trabalho remoto terão o impacto ampliado. Calcula-se que menos de 60% das indústrias estejam com sua produção em andamento, ainda assim de maneira parcial”, afirma Fabiano Souza.
Se de um lado a retração aperta a economia chinesa, diversas empresas de países desenvolvidos estão repensando suas estratégias de importação do país asiático, o que abre oportunidades para parceiros alternativos em outros países. Ou seja, empresas brasileiras poderão ter oportunidades para exportar produtos em substituição ou em complemento às necessidades chinesas. Um levantamento do Cial dun & bradstreet (Centro de Informação da América Latina) indica os setores com maiores possibilidades de abertura. O Brasil, por exemplo, poderia abrir mercado para exportar produtos como: máquinas, peças e equipamentos elétricos, além de roupas e acessórios de vestuário. Outro nicho promissor para as empresas brasileiras inclui: brinquedos, jogos e artigos esportivos, além de plásticos e artigos plásticos. E o Brasil, segundo o levantamento, ainda pode expandir vendas de instrumentos ópticos, médicos e cirúrgicos. (Tabela completa abaixo).
Mesmo no mercado nacional, diversas empresas estão substituindo fornecedores chineses por outros locais, condição que pode ser mantida também após o surto, como uma medida de contenção de riscos, mas é importante ficar atento aos reflexos ainda não mensurados. “A certeza que temos é que efeitos negativos também serão sentidos por aqui, a volatilidade da moeda, a queda da bolsa, redução de confiança do consumidor e aversão ao risco de investidores não contribuirão para a melhora do cenário da indústria brasileira” pondera Fabiano Souza que acredita será necessário preparar as indústrias para um ano de turbulência e somente com muito planejamento, organização e escolhas de estratégias corretas levarão a um resultado positivo.
Produtos importados pela China e possíveis provedores alternativos
Fonte: Cial dun & bradstreet
Brasil: Máquinas, peças e equipamentos elétricos.
Chile, Singapura: Reatores nucleares, caldeiras e peças.
México: Móveis e peças.
Brasil, México: Brinquedos, jogos e artigos esportivos, além de plásticos e artigos plásticos.
Chile, Colômbia e Índia: Veículos a motor e peças.
Brasil, Canadá: Roupas e acessórios de vestuário.
Colômbia, Brasil, Índia: Instrumentos ópticos, médicos e cirúrgicos.
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